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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Civilizações - Egípcia




Há mais de 4000 anos antes de Cristo, a dominação das técnicas agrícolas permitiu o surgimento de várias civilizações ao redor do mundo. No extremo nordeste da África, em uma região de características desérticas, a civilização egípcia floresceu graças aos abundantes recursos hídricos e terras férteis que se localizavam nas margens do rio Nilo.

O ciclo das águas nesta região promovia o regular transbordamento do rio que, durante a seca, deixava um rico material orgânico na superfície de suas terras. Percebendo tal alteração, os egípcios tiveram a capacidade de desenvolver uma civilização próspera que se ampliou graças às fartas colheitas realizadas. Dessa forma, temos definido o processo de desenvolvimento e expansão dos egípcios.

No campo político, os egípcios estiveram organizados através da formação dos nomos. Os nomos eram pequenas parcelas do território egípcio administradas por um nomarca. Tempos mais tarde, esses vários nomos estavam centralizados sob o poderio de um imperador. No ano de 3200 a.C., Menés, o governante do Alto Egito, promoveu a subordinação de 42 nomos, dando início ao Império Egípcio.

A sociedade egípcia era organizada por meio de critérios religiosos e econômicos. O faraó ocupava o topo desta hierarquia na condição de chefe de Estado e encarnação do deus Hórus. Logo abaixo, temos os sacerdotes como agentes organizadores dos cultos e festividades religiosas. Os nobres e escribas ocupavam uma posição intermediária realizando importantes tarefas que mantinham o funcionamento do Estado.

A base desta sociedade ainda contava com os soldados, que eram sustentados pelo governo e garantiam a hegemonia do poder faraônico através das armas. Logo abaixo, os camponeses e artesãos, que trabalhavam nas colheitas e na organização das obras públicas necessárias ao desenvolvimento agrícola e comercial. Por fim, havia uma pequena parcela de escravos que também estavam subordinados ao Faraó.

Além de conseguir prosperar economicamente pelo rígido controle da produção agrícola, podemos notar que os egípcios também produziram conhecimento e variados campos. A arquitetura, a medicina e a astronomia figuram como as mais interessantes facetas do legado científico egípcio. Vale à pena ressaltar também a escrita, que se organizava por complexos sistemas de símbolos e códigos.


Por Rainer Sousa

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Civilizações - Árabe




Por Rainer Sousa

Os árabes têm a sua história vinculada ao espaço da Península Arábica, onde primordialmente se fixaram em uma região tomada por vários desertos que dificultavam a criação de povos sedentarizados. Por isso, percebemos que no início de sua trajetória, os árabes eram povos de feição nômade que se intercalavam entre as regiões desérticas e os valiosos oásis presentes ao longo deste território.

Conhecidos como beduínos, essa parcela do povo árabe era conhecida pela sua religião politeísta e a criação de animais. A realidade dos beduínos era bem diferente da que poderíamos ver nas porções litorâneas da Península Arábica. Neste outro lado da Arábia, temos a existência de centros urbanos e a consolidação de uma economia agrícola mais complexa. Entre as cidades da região se destacava Meca, grande centro comercial e religioso dos árabes.

Regularmente, os árabes se deslocavam para cidade de Meca a fim de prestar homenagens e sacrifícios às várias divindades presentes naquele local. Entre outros signos sagrados, destacamos o vale da Mina, o monte Arafat, o poço sagrado de Zen-Zen e a Caaba, principal templo sagrado onde era abrigada a Pedra Negra, um fragmento de meteorito de forma cúbica protegido por uma enorme tenda de seda preta.

A atração de motivo religioso também possibilitava a realização de grandes negócios, que acabaram formando uma rica classe de comerciantes em Meca. Nos fins do século VI, essa configuração do mundo árabe sofreu importantes transformações com o aparecimento de Maomé, um jovem e habilidoso caravaneiro que circulou várias regiões do Oriente durante suas atividades comerciais.

Nesse tempo, entrou em contato com diferentes povos e, supostamente, teria percebido as várias singularidades que marcam a crença monoteísta dos cristãos e judeus. Em 610, ele provocou uma grande reviravolta em sua vida ao acreditar que teria de cumprir uma missão espiritual revelada pelo anjo Gabriel, durante um sonho. A partir de então, se tornou o profeta de Alá, o único deus verdadeiro.

O sucesso de sua atividade de pregação acabou estabelecendo a conquista de novos adeptos ao islamismo. A experiência religiosa inédita soou como uma enorme ameaça aos comerciantes de Meca, que acreditavam que o comércio gerado pelas peregrinações politeístas seria aniquilado por essa nova confissão. Com isso, Maomé e seu crescente número de seguidores foram perseguidos nas proximidades de Meca.

Acuado, o profeta Maomé resolveu se refugiar na cidade de Yatreb, onde conquistou uma significativa leva de convertidos que pressionaram militarmente os comerciantes de Meca. Percebendo que não possuíam alternativas, os comerciantes decidiram reconhecer a autoridade religiosa de Maomé, que se comprometera a preservar as divindades milenares da cidade de Meca.

A partir desse momento, os árabes foram maciçamente convertidos ao ideário do islamismo e vivenciaram uma nova fase em sua trajetória. Entre os séculos VII e VIII, os islâmicos estabeleceram um processo de expansão que difundiu sua crença em várias regiões do norte da África, da Península Ibérica e em algumas parcelas do mundo oriental.

Civilizações - Babilônia




Por Rainer Sousa

Por volta de 1900 a.C., um novo processo de invasão territorial dizimou a dominação dos sumérios e acádios na região mesopotâmica. Dessa vez, os amoritas, povo oriundo da região sul do deserto árabe, fundaram uma nova civilização que tinha a Babilônia como sua cidade principal. Somente no século XVIII o rei babilônico Hamurábi conseguiu pacificar a região e instituir o Primeiro Império Babilônico.

Sob o seu comando, a cidade da Babilônia se transformou em um dos mais prósperos e importantes centros urbanos de toda a Antiguidade. Tal importância pode até mesmo ser conferida na Bíblia, onde ocorre uma longa menção ao zigurate de Babel, construído em homenagem ao deus Marduk. De fato, são várias as construções, estátuas e obras que nos remetem aos tempos áureos desta civilização.

Além de promover a unificação dos territórios mesopotâmicos, o rei Hamurábi também foi imprescindível na elaboração do mais antigo código de leis escrito do mundo. O chamado Código de Hamurábi era conhecido por seus vários artigos que tratavam de crimes domésticos, comerciais, o direito de herança, falsas acusações e preservação das propriedades.

A inspiração necessária para que esse conjunto de leis escritas fosse elaborado repousa na antiga Lei de Talião, que privilegia o princípio do “olho por olho, dente por dente”. Apesar desta influência, as distinções presentes na sociedade babilônica também eram levadas em consideração. Com isso, o rigor das punições dirigidas a um escravo não era o mesmo imposto a um comerciante.

Mesmo promovendo tantas conquistas e construindo um Estado bastante organizado, os babilônicos não conseguiram resistir a uma onda de invasões que aconteceu após o governo de Hamurábi. Ao mesmo tempo em que os hititas e cassitas tomavam parcelas do domínio babilônico, outras revoltas que se desenvolviam internamente acabaram abrindo espaço para a hegemonia dos reinos rivais.

Entre os anos de 1300 e 600 a.C., os mesopotâmicos assistiram a dominação assíria, marcada pela violência de sua poderosa engrenagem militar. Por volta de 612 a.C., a sublevação dos povos dominados e a ação invasora dos amoritas e caldeus instituíram o fim do Império Assírio e a organização do Segundo Império Babilônico, também conhecido como Império Neobabilônico.

Nesse novo contexto, podemos destacar a ação do Imperador Nabucodonosor, que reinou entre os anos de 612 e 539 a.C.. Durante o seu governo, a civilização babilônica vivenciou o auge do desenvolvimento arquitetônico, representado pela construção das muralhas que protegiam a cidade, os luxuosos palácios e os Jardins Suspensos da Babilônia, admirado como uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo.

O regime de Nabucodonosor também ficou conhecido pelo estabelecimento de novas conquistas territoriais, entre as quais se destacam a região sul da Palestina e as fronteiras setentrionais do Egito. Após este governo, os domínios babilônicos foram paulatinamente conquistados pelos persas, que eram comandados pela batuta política e militar do rei Ciro I.

Vestido de Noiva, O trailer

Vestido de Noiva
O longa metragem é baseado na peça homônima do dramaturgo Nelson Rodrigues. A obra deflorou a moderna dramaturgia brasileira. O filme foi roteirizado, produzido e dirigido por Joffre Rodrigues, filho de Nelson.

O Apocalipse segundo Rasputin

O mago cercado por suas admiradoras na corte russa, em foto de 1910

O nome Rasputin tem a mesma raiz da palavra raspoutny, que significa “depravado”. O místico ganhou o apelido depois de se envolver em escândalos na juventude. Costuma-se situar seu nascimento na segunda metade da década de 1860, em um vilarejo da região de Tobolsk, na Sibéria.
Gostava de assediar mulheres, de disputar braço de ferro e de beber além do razoável. Desde a infância, tinha “surtos de misticismo”, talvez herança das histórias extraordinárias contadas por monges que se abrigavam na casa de sua família.
Aos 19 anos, Rasputin se casou com uma camponesa e teve com ela cinco filhos. Seis anos depois, acreditou ver a Virgem Maria no campo. Um eremita o aconselhou a ir ao monte Atos, na Grécia. Ele abandonou a família, partindo em uma peregrinação que duraria mais de dez meses. Viveu da caridade e fez paradas em mosteiros, onde adquiriu parco conhecimento da escrita e um verniz suficiente para se fazer passar por religioso.
Foi assim que cresceu pouco a pouco sua reputação de sábio e de curandeiro. Mas havia também uma vida mística secreta a envolver Rasputin. Ele frequentava reuniões dos khlysty, seguidores de uma seita que associava erotismo e religião. Em igrejas abandonadas, iluminadas por velas, adeptos de ambos os sexos, usando unicamente véus transparentes, entregavam-se a danças que degeneravam em transes e orgias selvagens.
Depois de ouvir dizer que o imperador e a imperatriz eram excessivamente ocidentalizados, ele quis conhecê-los e iniciá-los no que seria “a verdadeira alma russa”. Em 1904, munido da carta de recomendação de um bispo, foi para São Petersburgo e impressionou a grã-duquesa Anastácia, que o apresentou à família imperial.
Como sabia que o herdeiro Alexis era hemofílico, Rasputin pôs suas mãos sobre o garoto e mandou que fossem jogados fora os remédios que tomava – aspirina, cujo efeito anticoagulante era desconhecido na época. A criança, claro, melhorou.
Três anos mais tarde, Alexis teve crises de hemorragia interna, que os médicos não conseguiam controlar. Rasputin foi chamado, benzeu a família imperial e se pôs a orar. Ao cabo de dez minutos, disse: “Abre teus olhos, meu filho”. E o menino despertou, sorridente. Rapidamente, sua saúde melhorou.
Encantada, a imperatriz delegou-lhe grandes poderes políticos. Ele assinava e transmitia petições de promoções e nomeações. Não cobrava dos pobres, dos ricos pedia somas razoáveis, e das mulheres, favores sexuais.
Tinha horror à guerra. Assim, em 1914, suplicou ao czar que a Rússia ficasse fora da Primeira Guerra Mundial. “Tu és o czar, o pai de teu povo. Não deixes que os lunáticos triunfem, te destruam a ti e a teu povo. (...) Nós nos afogaremos em sangue. Grande desastre e miséria infinita”, escreveu ao czar.
Fiel a sua aliança com a França, Nicolau II enviou suas tropas. O que veio depois da grande crise decorrente da guerra foi a revolução de 1917, que lhe custou a vida e a de sua família.

Rasputin

Em 1916, Grigori Iefimovitch Novykh, vulgo Rasputin, era o homem mais poderoso da Rússia. Dizem que tinha um olhar penetrante e magnético, compatível com a fama de místico que ampliava seu poder pessoal. De fato, exercia indiscutível fascínio sobre o frágil czar Nicolau II e sua bem-amada esposa, a imperatriz Alexandra Feodorovna.
Mas o poder de Rasputin não era nem um pouco oculto. Apoiava- se na excepcional ascendência que tinha sobre os monarcas absolutos da Rússia de então. Ele nomeava ministros do mesmo modo que os derrubava.
Sua aparência era desagradável. Filho de camponeses (então chamados “mujiques”, sinônimo de pobreza associada à servidão), o mago era sujo e grosseiro: a barba estava sempre desgrenhada, e os cabelos eram compridos, maltratados e gordurosos. Mal sabia ler e escrever.
Príncipes e grão-duques ficavam chocados diante da visão daquele homem. A população o temia. A nobreza espalhava boatos de que ele seria o responsável por todas as agruras pelas quais o país passava na Primeira Guerra Mundial, e as más línguas o acusavam, infundadamente, de ser amante da czarina, além de agente da inimiga Alemanha. Alguns conspiravam para assassiná-lo, o que ele não ignorava.
No início de dezembro daquele ano de 1916, Rasputin enviou a Nicolau II uma carta profética:

Czar de todas as Rússias, tenho o pressentimento de que até o final do ano eu deixarei este mundo. Serei assassinado, já não estarei entre vós. Se eu for morto por gente do povo, gente como eu, tu não tens nada a temer, continuarás no trono. Mas, se eu for morto por nobres, as mãos deles ficarão manchadas pelo meu sangue. Eles se odiarão e matarão uns aos outros. Dentro de 25 anos não restará um único nobre neste país. Nenhum parente teu, nenhum de teus filhos sobreviverá mais de dois anos. O povo russo dará cabo de todos. Assim, depois que eu desaparecer, tem cuidado, pensa bem, protege-te. Diz a todos os teus que derramei meu sangue por eles. Reza, reza, sê forte, pensa em tua família.

Alguns dias depois, em 29 de dezembro de 1916, um telefonema anônimo avisou Rasputin de um perigo iminente, mas sem mais detalhes. Um pouco mais tarde, Protopopov, ministro do Interior, foi pessoalmente pedir que ele se trancasse em casa. Tudo em vão, pois à meia-noite, o místico se vestiu e se perfumou para sair. Usou uma camisa azul celeste, bordada de flores de girassol, e uma calça preta e bufante de veludo, além de botas de cano alto de verniz.
Uma noitada social aguardava o enjeitado filho de camponeses no palácio Iussupov, o ambiente mais luxuoso de Petrogrado (atual São Petersburgo). O carro do próprio príncipe Félix Iussupov foi buscá-lo em casa para o programa: conhecer sua casa e sua jovem esposa, Irina; em seguida, os três buscariam diversão fora dali, com os ciganos.
Era uma armadilha. Na realidade, Irina estava em Ialta, na Crimeia. O príncipe havia organizado uma farsa. No salão do primeiro andar, um fonógrafo tocava árias de dança, como se a dona da casa estivesse dando uma recepção para a alta sociedade local. Na verdade, ali estavam somente os quatro cúmplices do príncipe: o grão-duque Dimitri Pavlovitch, o deputado Purichkevitch, o tenente Sukhotin e o médico Lazovert. Para produzir o som de vozes femininas, eles tinham convocado Marianna Defelden, parente de Dimitri, e Vera Karalli, bailarina do balé Bolshoi.
Quando chegaram, Rasputin ouviu o som do fonógrafo. O príncipe lhe disse que a esposa tinha convidados importantes, mas prestes a partir, e que ambos deveriam esperar bebendo algo em uma encantadora sala íntima de refeições, no subsolo do palácio. O fogo da lareira ajudava a iluminar a decoração perfeita e a mesinha com quatro copos, algumas garrafas, biscoitos e um prato com docinhos de chocolate. Docinhos envenenados com cianureto de potássio pelo doutor Lazovert. Também havia veneno em dois dos quatro copos – para que não houvesse chance de erro na dose.
Rasputin e Iussupov sentaram-se e puseram-se a conversar. Nervosamente, o dono da casa ofereceu o prato com os docinhos. Rasputin recusou, pois não gostava de doces, o que sua filha Matryona confirmaria posteriormente. O príncipe ficou desconcertado, e o convidado acabou aceitando um e depois outro. Iussupov não tirava os olhos dele, ansioso por detectar os efeitos do veneno, mas nada acontecia. Ofereceu, então, um excelente vinho da Crimeia. Nova recusa, nova ansiedade. Por fim, o próprio Rasputin encheu os dois copos vazios. Brindaram. Ele gostava de vinho, pediu para ser servido novamente. Iussupov conseguiu então dar a ele um dos dois copos que continham veneno. Rasputin bebeu de um só gole, sem perceber nem gosto nem cheiro suspeito, e... nada aconteceu. Aquele homem parecia invulnerável!
Aterrorizado, Iussupov desculpou-se e subiu ao primeiro andar, para avisar seus cúmplices que o veneno não fazia efeito: Rasputin tinha seguramente parte com o diabo. O príncipe desceu novamente. “Nós nos sentamos de frente um para o outro e bebemos em silêncio”, contaria ele em suas Memórias. “Rasputin me olhava com um sorriso zombeteiro, como que dizendo: ‘Estás vendo, não podes nada contra mim’. De repente, ele me lançou um olhar de ódio. Um olhar diabólico.”
Passaram-se duas horas, e Rasputin se impacientava, vendo que Irina não chegava. Os quatro conspiradores, no limite de seus nervos, se perguntavam se não seria melhor descer de uma vez e acabar com Rasputin. Iussupov ia e voltava de um andar a outro. Argumentava que seu hóspede era capaz de uma reação terrível se visse os quatro chegarem juntos. Se Dimitri lhe emprestasse seu revólver, ele mesmo abateria o convidado!
O príncipe desceu novamente, com a arma escondida. Ao chegar ao subsolo, ficou por um momento contemplando o crucifixo sobre a escrivaninha. “Vê como esse Cristo é bonito”, disse ao convidado. “Faz o sinal da cruz diante dele e reza uma oração.” Obrigando a vítima a fazer o sinal da cruz, esperava exorcizar o demônio que protegia seu inimigo. Talvez por intuição, Rasputin teve um momento de apreensão, mas seu adversário não lhe deu tempo de se recompor. Empunhou a arma e acertou-o no peito. Com um grito, Rasputin desabou no chão. Ao ouvir o ruído, os quatro cúmplices entraram correndo e levaram o corpo do infeliz, em convulsão, até o pátio. Antes de irem jogar o corpo no rio, os quatro voltaram ao primeiro andar, para se despedir das duas senhoras e avisá-las de que o crime estava consumado.
Iussupov desceu novamente para contemplar o cadáver, conferiu o pulso e, acreditando que o coração já não batia, sacudiu o corpo com toda força e o deixou cair com violência sobre a neve. De repente, Rasputin abriu um olho, e em seguida o outro. “Aconteceu então algo inacreditável”, continua Iussupov em seu relato. “Rasputin reuniu todas as suas forças. Com um pulo, se levantou, espumando pela boca, e avançou sobre mim, com um rugido assombroso. Com os dedos trêmulos, se agarrou a meus ombros, depois ao meu pescoço, tentando me estrangular. Ele urrava meu nome.”
O príncipe contou que empurrou Rasputin com todas as forças e conseguiu se soltar. Do alto da escadaria, Purichkevitch ouviu o príncipe pedir: “Atira! Ele ainda está vivo”. O cúmplice desceu, com um pesado revólver na mão. Viu Rasputin avançar sobre o príncipe no pátio, aos gritos: “Félix, Félix, eu vou contar à czarina!”. Purichkevitch se lançou em sua perseguição e atirou duas vezes, mas errou. Chegou então o grão-duque Dimitri, o único militar do grupo, acostumado a usar uma arma. Este também atirou duas vezes: a primeira bala atingiu Rasputin nas costas; a segunda, na cabeça, o derrubou no chão, sobre a neve.
Diante das duas mulheres assustadas, os homens exultaram. Descontrolado, Iussupov atacou violentamente o corpo e, depois, mandou o mordomo apagar os vestígios de sangue. Para ter um álibi, matou com um tiro na boca seu cachorro mais fiel, para o caso de alguém declarar posteriormente ter ouvido estampidos de armas.
Purichkevitch, Sukhotin e Lazovert, por sua vez, enrolaram Rasputin em um cobertor, amarraram com uma corda e o levaram de carro até uma ponte. Ali, o alçaram sobre o parapeito, sobre a capa de gelo que recobria o rio Neva e procuraram uma brecha para lançar o corpo às águas.
Na pressa, esqueceram de pesos que fizessem o cadáver afundar. Dois dias depois, a 200 metros da ponte, surgiu o morto coberto de gelo e horrivelmente mutilado. Mais surpreendente eram suas mãos: estavam erguidas, como se tentassem se soltar das cordas. A autópsia revelou a presença de água nos pulmões, prova de que apesar do veneno, das balas e dos golpes que sofrera, ainda respirava quando foi jogado na água. Morreu afogado e de frio.
Toda a cidade soube então da morte do místico. Uma multidão acorreu ao local, munida de baldes e garrafas, para pegar a água que tinha estado em contato com seu corpo, como que para recolher uma parcela de sua força sobrenatural. A polícia identificou rapidamente os assassinos.
Na alta sociedade as pessoas comemoraram a vitória da “pátria” sobre o suposto traidor, mas o povo passou a vê-lo como mártir – o homem vindo da miséria, que defendia os interesses dos pobres junto ao czar, assassinado pela nobreza.
Para a czarina, foi uma tragédia: ela perdia aquele em quem depositava toda a sua confiança, um homem de Deus, aquele que lhe dava segurança. Alexandra viu nas mãos erguidas do morto um presságio sinistro: tudo desmoronaria na Rússia. Tinha razão. Um ano e meio depois, na madrugada de 16 para 17 de julho de 1918, ela foi assassinada pelos bolcheviques, assim como seu marido e seus cinco filhos.
Nicolau II não era tolo. Ficou horrorizado com as circunstâncias do assassinato. Todavia sabia que, se aquele tipo de processo evoluísse publicamente, seu prestígio político e seu trono correriam perigo. Mandou expulsar os assassinos da cidade e ordenou o encerramento das investigações.

por Alain Frerejean

A Inquisição tinha poderes absolutos?

Que imagens nos vêm à mente quando pensamos na palavra “Inquisição”? Confissões arrancadas sob tortura e o brilho das fogueiras expurgando os pecados de hereges. Em termos práticos, o Santo Ofício foi um tribunal da Igreja Católica romana, investido do direito canônico e encarregado de tomar decisões sobre os casos de comportamento contrário aos dogmas religiosos. Essa jurisdição excepcional representava, em meio à fragilidade dos tribunais eclesiásticos regulares, a autoridade do próprio papa.

Com a renovação do direito romano, já na Idade Média, a área de atuação dos procedimentos inquisitoriais foi sendo gradualmente alterada. Em um primeiro momento, durante os séculos XII e XIII, seu objetivo foi preservar a disciplina eclesiástica; em seguida, a Igreja passou a se servir da repressão na luta contra as heresias, mas de uma maneira diferente daquela que costumamos imaginar.

Os castigos aplicados pela instituição, por exemplo, eram reproduções das punições já instituídas pelo poder temporal, que em geral se encarregava de condenar e queimar os hereges, as feiticeiras ou os sodomitas. Em uma sociedade na qual imperava a fé, é de supor que os poderes civis se apropriassem, na tentativa de combater a desordem social ou os inimigos públicos, das prerrogativas religiosas.

Os procedimentos do tribunal eclesiástico eram tão rudimentares quanto os da autoridade civil da época. Algumas vezes, eram até mais progressistas: um notário transcrevia todos os debates, e os acusados não ficavam presos durante todo o inquérito, podendo recusar determinado juiz ou apelar para Roma contra alguma decisão do tribunal. Os que confessavam seus erros recebiam uma penitência religiosa – a fustigação pública durante a missa, a responsabilidade de cuidar de um pobre, o confisco dos bens, o exílio ou a peregrinação. Caso contrário, eram excomungados.

O recurso da tortura, muito comum nos tribunais seculares, não foi uma constante na Inquisição: a instituição recorreu muito raramente a esse procedimento. Ao todo, menos de 10% dos julgamentos envolveu a agonia física dos acusados. Com a imposição de uma regra que proibia os eclesiásticos de derramar qualquer gota de sangue dos réus, várias das confissões obtidas sob tortura perderam sua validade. Ao fim e ao cabo, o tribunal religioso condenou pouco.

Ou seja: o aparelho repressor da Inquisição foi bem menos implacável do que o civil. Por que, então, mantemos essa imagem tão sombria do Santo Ofício?

A memória coletiva acabou retendo o episódio da cruzada contra os albigenses, lançada pelos grandes barões do norte da França para acabar com a heresia dos cátaros no sul do país entre 1208 e 1249. Mas foi, sobretudo, o fanatismo do inquisidor espanhol Tomás de Torquemada, no século XV, que marcou definitivamente o espírito do Ocidente europeu. Então vieram a Reforma protestante do século XVI, o antipapismo da Igreja Anglicana, a luta do iluminista Voltaire contra o obscurantismo e, finalmente, o anticlericalismo dos séculos XIX e XX: um conjunto de elementos que pintaram um quadro tenebroso e distorcido da Inquisição. E essa é a imagem que ainda repousa na mentalidade de nosso tempo.

por Olivier Tosseri

Maçonaria

A maçonaria nunca escondeu sua existência nem os seus objetivos. Surgida na Escócia do século XVII e rapidamente transferida para a Inglaterra, ela se definiu desde o início como uma ordem essencialmente filosófica e filantrópica. Pela difusão de um ensinamento esotérico, sem dogmas, o objetivo declarado do grupo é contribuir para o progresso da humanidade, e seus membros são encorajados a praticar o bem ao próximo e a promover a melhoria espiritual e moral.

Os ramos da ordem que se ligam às corporações de pedreiros têm, de fato, lendas de origem que remontam ao Templo de Salomão, às pirâmides do Egito ou aos construtores de catedrais da Idade Média. Todavia, em pouco tempo esses grupos deixaram de ter ligação com a profissão de pedreiro e passaram a agregar, principalmente, artesãos e pequenos comerciantes. Estruturados em Londres e organizados em “obediências” ou “grandes lojas” (agrupamentos de várias lojas), esses locais mais se pareciam com as sociedades fraternas de beneficência e ajuda mútua do período. Esse também foi o momento em que nasceu a maçonaria “especulativa” ou “filosófica”, que se espalhou pela Europa e por suas colônias. A Grande Loja Francesa, por exemplo, foi criada em 1738 e abrigou muitos burgueses, filósofos e escritores como Goethe ou Voltaire.

A reputação de “sociedade secreta” veio por causa dos inúmeros rituais que foram sendo criados com o tempo. Eles não estão escritos em lugar nenhum e consistem em senhas de reconhecimento mútuo e, sobretudo, em uma série de provas de iniciação: depois de se tornar irmão ou irmã, o “aprendiz” não deve mais falar, para poder se impregnar do saber dos mais velhos; em seguida, ele pode se tornar um “companheiro” e, finalmente, ascender ao nível de “mestria”.

Desde sua criação, a maçonaria enfrenta uma série de oposições políticas e religiosas que nunca deixaram de estigmatizá-la e desacreditá-la. Apesar de inúmeras lojas serem de inspiração cristã, a Igreja decidiu que os maçons difundiam o relativismo religioso e divulgou inúmeras bulas papais que chegaram ao ponto de ameaçá-los de excomunhão.

No campo da política, as monarquias do século XVIII lutaram contra as exigências por mais liberdade e igualdade professadas por vários dos membros da ordem. Os marxistas, por sua vez, condenaram o que consideravam um movimento burguês, e o Partido Comunista Francês chegou a pedir aos seus adeptos que deixassem de frequentar as lojas. Os grupos de extrema direita e antissemitas também embarcaram nessa onda de hostilidade: os nazistas, por exemplo, mataram entre 80 mil e 200 mil maçons franceses durante a ocupação do país, além de ordenar a deportação dos demais.

Atualmente, a maçonaria é vista como uma ampla rede social, conduzida pelos interesses de seus membros e sujeita, portanto, a favorecimentos, conflitos e práticas duvidosas. Discreta, mas não secreta, a ordem cada vez mais se livra do estigma de “obscuridade”, e até membros de governos em todo o mundo já encontraram espaço para revelar publicamente que pertencem ao grupo.

por Olivier Tosseri

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A carta de Pero Vaz de Caminha - 2 de 27


topamos aves a que chamam fura-buxos.
Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum
grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra
chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome – o MONTE PASCOAL
e a terra – a TERRA DA SANTA CRUZ.
Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braços; e ao sol posto, obra
de seis léguas da terra, surgimos âncoras, em dezenove braças – ancoragem limpa. Ali
permanecemos toda aquela noite. E à quinta-feira, pela manhã. Fizemos vela e
seguimos direitos à terra, indo aos navios pequenos diante, por dezassete, dezasseis,
quinze, catorze, treze, doze, dez e nova braças, até meia légua da terra, onde todos
laçamos âncoras em frente à boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez
horas pouco mais ou menos.
Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito,
segundo disseram os navios pequenos, por chegaram primeiro.
Então lançamos fora os batéis e esquifes; e vieram logo todos os capitães
das naus a esta nau do capitão-mor, onde falaram entre si. E o capitão-mor mandou em
terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para
lá, acudiram pela praia homens, quando os dois, quando aos três, de maneira que, ao
chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens.
Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas
vergonhas. Nas mãos traziam arcos com setas. Vinham todos rijamente sobre o batel; e
Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram.
Ali não pôde deles haver fala, nem entendimento de proveito, por o mar quebrar
na costa. Deu-lhes somente um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava
na cabeça e um sombreiro preto. Um deles deu-lhe um

continua...

A carta de Pero Vaz de Caminha - 1 de 27




Senhor:
Posto que o Capitão–mor desta vossa frota, e assim os outros capitães
escreveram a Vossa alteza a nova do achamento desta terra nova, que nesta navegação
agora achou, não deixarei também de dar a minha conta disso a Vossa Alteza, o melhor
que eu puder, ainda que – para o bem contar e falar-, o saiba fazer pior que todos.
Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade, e creia bem
por certo que, para alindar nem afear, não porei aqui mais do que aquilo que vi e me
pareceu.
Da marinhagem e singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa
Alteza, porque o não saberei fazer, e os pilotos devem ter esse cuidado. Portanto,
Senhor, do que hei-de falar começo e digo:
A partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi, segunda-feira, 9 de Março.
Sábado, 14 do dito mês, entre as oito e as nove horas, nos achamos entre as Canárias,
mais perto da Grã-Canária, onde andamos toque aquele dia em calma, à vista delas,
obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas, pouco mais ou menos, houvemos vista das Ilhas de Cabo Verde, ou melhor, da Ilha de S. Nicolau,
segundo o dito Pêro Escolar, piloto.
Na noite seguinte, segunda-feira, ao amanhecer, se perdeu a frota Vasco de
Ataíde com sua nau, sem haver tempo forte nem contrário para que tal acontecesse. Fez
o capitão suas diligências para a achar, a uma e outra parte, mas não apareceu mais!
E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até que, terça-feira
das Oitavas de Páscoa, que foram vinte e um dias de Abril, estando da dita ilha obra de
660 ou 670 léguas, segundo os pilotos diziam, topamos alguns sinais de terra, os quais
eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, assim
como outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E, quarta-feira seguinte, pela manhã

continua....

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A profissão de historiador surgiu na Antiga Grécia com os primeiros relatos de viagens e durante muito tempo o historiador limitou-se a ser um mero cronista ou narrador, centrando os seus relatos, essencialmente, nos factos e nas datas dos acontecimentos.

Actualmente, o historiador procura não apenas narrar o passado, mas também compreender tudo aquilo que se liga à evolução dos acontecimentos históricos.