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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A carta de Pero Vaz de Caminha - 1 de 27




Senhor:
Posto que o Capitão–mor desta vossa frota, e assim os outros capitães
escreveram a Vossa alteza a nova do achamento desta terra nova, que nesta navegação
agora achou, não deixarei também de dar a minha conta disso a Vossa Alteza, o melhor
que eu puder, ainda que – para o bem contar e falar-, o saiba fazer pior que todos.
Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade, e creia bem
por certo que, para alindar nem afear, não porei aqui mais do que aquilo que vi e me
pareceu.
Da marinhagem e singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa
Alteza, porque o não saberei fazer, e os pilotos devem ter esse cuidado. Portanto,
Senhor, do que hei-de falar começo e digo:
A partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi, segunda-feira, 9 de Março.
Sábado, 14 do dito mês, entre as oito e as nove horas, nos achamos entre as Canárias,
mais perto da Grã-Canária, onde andamos toque aquele dia em calma, à vista delas,
obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas, pouco mais ou menos, houvemos vista das Ilhas de Cabo Verde, ou melhor, da Ilha de S. Nicolau,
segundo o dito Pêro Escolar, piloto.
Na noite seguinte, segunda-feira, ao amanhecer, se perdeu a frota Vasco de
Ataíde com sua nau, sem haver tempo forte nem contrário para que tal acontecesse. Fez
o capitão suas diligências para a achar, a uma e outra parte, mas não apareceu mais!
E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até que, terça-feira
das Oitavas de Páscoa, que foram vinte e um dias de Abril, estando da dita ilha obra de
660 ou 670 léguas, segundo os pilotos diziam, topamos alguns sinais de terra, os quais
eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, assim
como outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E, quarta-feira seguinte, pela manhã

continua....

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